Artigo: A terceira via

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Por: Rodrigo Segantini*

 João Doria desistiu de ser candidato a presidente da República. Anunciou que, percebendo que nem seu partido desejava apoiá-lo, não convinha insistir. Os mais antigos já diziam que não adianta malhar em ferro frio. Doria bem que tentou e provou que a sabedoria popular tem sua verdade.

Com isso, o PSDB anunciou que, livre e desimpedido de sua “candidatura própria”, pretende fazer parte do grupo que construirá a chamada “Terceira Via”. Claramente, o que se diz aqui é que há evidenciada duas vias já estabelecidas, aparentemente se referindo a Jair Bolsonaro supostamente à direita e Lula à esquerda. Segundo esse entendimento, a ideia é que haveria espaço para alguém ser do meio, do centro. Assim, haveria a três vias, sem espaço para uma quarta.

Mas e o Ciro? Ciro Gomes, ex-governador, ex-ministro, ex-deputado federal, já foi candidato a presidente três vezes nos últimos vinte anos, sempre ficando com algo em torno de 12% dos votos válidos. Há anos, ele está anunciando sua disposição de concorrer à presidência em 2022 e parece que tem o apoio irrestrito de seu partido, o PDT. Portanto, Ciro é alguém que tem vontade de participar da disputa, tem o apoio de seu partido, tem experiência para desempenhar a função pretendida e tem apoio de parcela expressiva do eleitorado. Mas, cada vez que alguém diz “terceira via”, de alguma forma está alijando a candidatura de Ciro Gomes ou, ao menos, a possibilidade de ser eleito.

A resposta está no nosso sistema político. Embora pareça caótico, ao longo dos governos federais petistas, foi estabelecido que haveria uma contenda social que precisaria ser mediado. Algo como “nós vs eles” ou “coxinhas vs mortadelas” ou “vermelhos vs verde-amarelos” – tanto faz. No ambiente de lá-e-cá, só cabe mais um lugar: o meio, que parece ser o ponto de equilíbrio, de moderação, de ponderação, de justeza.

Ciro não parece ser capaz de transmitir a imagem de equilíbrio, de moderação, de ponderação que se espera do centro, da terceira via. As notícias que já sobre Ciro tratam de seu comportamento explosivo,  dado a arroubos, algo que pode caber na direita ou na esquerda, mas não no centro. Logo, em um ambiente que há três vias, estando a direita ocupada e a esquerda ocupada, não cabendo Ciro no centro, ele estaria correndo por fora.

Porém, fora agora está Doria, ao lado de Luciano Huck e Sérgio Moro, que também estavam dentro em algum momento e em seguida também deram o fora. Fora está o interesse público, porque a disputa eleitoral que se avizinha mais se parece uma rinha escolar do sexto ano do que realmente o processo seletivo do mandatário da nação.

Em um rio, à direita e à esquerda estão as margens, que oprimem o curso d’água. A terceira via é o próprio rio. A terceira via é o próprio povo. A terceira via somos nós. É mesmo uma pena que não haja um candidato que nos represente na disputa. Não sabemos quem será o vencedor, mas quem perderá certamente somos nós, o povo.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas nacionais e mundiais e de refletir as distintas tenências do pensamento contemporâneo.

 

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